Seguro é a melhor solução para sair protegido de alagamentos e enchentes

Em Alagoas, a busca pelos serviços contra estragos provocados pelas chuvas aumentou em até 12%

Por Lucas França e Valdete Calheiros - Repórteres / Bruno Martins: Revisão | Redação

A proximidade do inverno movimenta o mercado de seguros com os proprietários das residências, pontos comerciais e veículos tentando a todo custo proteger seus bens. A boa notícia diante de tantos alagamentos provocados pelas chuvas que costumeiramente fazem estragos nas cidades brasileiras é que os corretores de seguro têm sim a solução. Em Alagoas, a demanda não é diferente. Há registros de alagamentos em praticamente todos os municípios do estado. Na capital, a população sempre reclama que bastam “10 minutos de chuva para toda a área ficar intransitável”.

É bastante comum vermos notícias sobre pessoas que moram em áreas que sofrem com alagamentos em períodos de chuvas, atingindo suas residências e destruindo diversos bens, como sofás, geladeiras, fogão, armários e até mesmo suas roupas. Muitas vezes, essas regiões não contam com o apoio necessário do governo e as pessoas acabam precisando arcar com os prejuízos ano após ano.

São muitas as famílias que vivem nessa situação e essa, infelizmente, é uma realidade que nem sempre recebe a merecida atenção por parte do poder público, a quem incumbe criar políticas públicas com o objetivo de atender ao interesse da coletividade.

O corretor de seguros Edmilson Ribeiro Silva; diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização, Previdência Privada e de Saúde no Estado de Alagoas (Sincor/AL); explicou que a busca pelos seguros contra os estragos provocados pelas chuvas aumentou de 10% a 12% em relação aos meses anteriores.

Edmilson Ribeiro; que é também vice-presidente nordeste da Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros, de Capitalização, de Previdência Privada, das Empresas Corretoras de Seguros e de Resseguros (Fenacor); ensinou muitas dicas de como proteger o imóvel residencial ou comercial dos frequentes alagamentos registrados em Maceió.

Edmilson Ribeiro (Foto: Edilson Omena)

“Contratar um seguro residencial ou empresarial é o primeiro passo a ser dado. Na cobertura básica do seguro residencial e do seguro empresarial, o proprietário está a salvo de danos causados por incêndios, quedas de raios e explosões. Então, além dessa cobertura básica que todo seguro residencial e todo seguro empresarial têm, a pessoa interessada em proteger seu imóvel precisa contratar também a cobertura adicional de alagamento ou enchente”, acrescentou.

CRESCIMENTO URBANO

O crescimento urbano desordenado é, certamente, uma das principais causas de alagamentos atribuíveis à ação do homem, especialmente quanto às construções irregulares em áreas de risco. O que tende a ser um problema causado pela falta de opções melhores de locais para se residir. Outro fator que pode ser atribuído à ação humana é o descarte de lixo feito de forma inadequada. Basicamente, o resíduo que deixa de ir para a coleta regular acaba indo parar nas ruas e, durante as chuvas, entope os bueiros e dificulta o escoamento da água por meio das galerias pluviais, que são as tubulações urbanas que drenam a água da chuva e da cheia dos rios.

Nas áreas próximas aos rios, esse problema é ainda mais grave, pois a água que invade as vias urbanas se soma à força da correnteza e arrasta tudo o que estiver pela frente. Muitas vezes, o volume das chuvas surpreende até mesmo os meteorologistas e, em poucos dias, chove o que era esperado para o mês todo. Por isso, é importante a prevenção, seja ela feita pelo poder público, seja ela adotada por quem vive em áreas que contam com esse tipo de possibilidade.

A finalidade de uma apólice não é o custo a mais, e sim, a blindagem patrimonial. Quem contrata uma apólice valoriza aquilo que conquistou ao longo da vida, bem como a própria tranquilidade. Ela funciona por meio da análise de riscos futuros e incertos, cuja ocorrência pode ou não se concretizar. É isso o que torna o negócio viável para as seguradoras e igualmente benéfico aos segurados.

Mesmo quem mora em edifícios pode se beneficiar da cobertura contra alagamentos, pois as garagens subterrâneas também podem receber as águas das chuvas e inundarem, causando danos aos veículos que lá se encontrarem. Com a contratação da nova cobertura, será possível receber uma indenização por esse tipo de prejuízo, de acordo com o valor contratado pelo segurado.

Em um país que ocupa a sexta posição no ranking mundial de incidência de enchentes, esse tipo de proteção é indispensável!

COBERTURA PARA VEÍCULOS

E quando o bem é móvel? No caso dos veículos que, em tese, estão ainda mais expostos aos riscos de alagamentos e enchentes já que circulam pelas ruas, avenidas e estradas que em minutos ficam intransitáveis, o que fazer?

“Contratar seguro também. É a única solução, diante da falta de estrutura das cidades para escoar a água da chuva com a mesma rapidez com que cai do céu”, alertou Edmilson Ribeiro.

(Foto: Edilson Omena)

Conforme as explicações do diretor do Sincor/AL, todos os automóveis que possuem um seguro geral contra colisão, incêndio, roubo e terceiros, possuem ainda essa cobertura de alagamento ou enchente, desde que o segurado não cause o risco. “Se o motorista está na praia, transitando com seu veículo pela areia e molha na água salgada o mar aí não tem cobertura. Mas se está, por exemplo, na Avenida Fernandes Lima ou em qualquer outra via, e se depara com um alagamento, esse veículo está coberto. Inclusive, os veículos que estejam estacionados no subsolo de qualquer edifício empresarial ou residencial, essa cobertura tem no seguro de automóveis”, garantiu.

Não é por acaso que a procura por seguros deste tipo tem aumentado bastante nos últimos meses e anos. Sobretudo, em relação aos automóveis. Os motoristas e donos de veículos estão tão preocupados com este tipo de problema, frisou o vice-presidente nordeste da Fenacor, quanto se preocupam com as possiblidades de colisão, incêndio e roubo.

Na avaliação do corretor, os estragos causados pelas chuvas são tão extensos e sempre tão onerosos que o interessado em fazer essa cobertura já tem a plena convicção que quer contratar o serviço. “Que quer e mais que isso, que precisa!”, pontuou.

Edmilson Ribeiro garantiu que pagar seguro contra alagamento realmente compensa. “Aliás, compensa até demais. Na hora em que quiser contratar um seguro, procure um corretor de seguros credenciado da sua confiança e faça as perguntas necessárias”, salientou. A cobertura do seguro é anual e o contrato precisa ser renovado.

Quem contrata uma apólice valoriza aquilo que conquistou ao longo da vida, bem como a própria tranquilidade. Ela funciona por meio da análise de riscos futuros e incertos, cuja ocorrência pode ou não se concretizar.

Chuvas em Murici causaram estragos em 2022 (Foto: Edilson Omena)

Seguro ainda é desconhecido em cidades do interior

Em São José da Laje, por exemplo, após o Rio Mundaú transbordar em 2022, um rastro de destruição ficou na cidade. Os coqueiros da Praça Central foram arrastados pelas águas, bancos e monumentos ficaram destruídos. E o mesmo aconteceu em várias residências e estabelecimentos comerciais em cerca de 10 ruas. Em 2023, a situação foi em menor proporção quando comparada aos anos anteriores. Mas também deixou prejuízos para várias famílias, estas que não têm seguro, seja por falta de dinheiro para contratar os serviços ou pela falta de informação.

A aposentada Maria Vieira, 74 anos, foi entrevistada pela reportagem da Tribuna em 2022 e à época ela contou que perdeu tudo que tinha em casa e não conseguiu salvar nada. “Perdi completamente tudo, aqui na minha casa a água subiu cerca de três metros. Só a casa que não foi ao chão. Roupas, móveis e até a feira que tinha acabado de fazer a cheia levou. O que restou foi minha vida e agradeço a Deus por isso”, contou à reportagem naquele momento.

Aposentada perdeu todos seus pertences em chuva forte que atingiu São José da Laje em 2022 (Foto: Edilson Omena)

Em 2024, a reportagem voltou a falar com a aposentada para saber se ela conhecia o seguro residencial – e que pode contratar dentro dele o seguro contra enchentes. A aposentada disse que não. “Não conhecia, não ouvi falar sobre isso, mas aqui no interior a gente tem pouco acesso a essas informações, né? Então, se eu tivesse este tipo de seguro eu conseguiria ter um retorno por conta do que a água do rio causou?”, questionou Maria, vítima das enchentes no município mais de uma vez.

Assim como acontece com residências e estabelecimento comerciais, os veículos também estão passíveis de “encarar” uma inundação ou alagamento tanto na capital quanto no interior do estado. O seguro para automóveis também pode cobrir este fenômeno.

No último dia 9 de abril, um motorista por aplicativo e sua passageira ficaram ilhados dentro de um carro e foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBM/AL) na Rua da Codeal, no Conjunto Salvador Lyra, no bairro Tabuleiro do Martins, parte alta de Maceió, próximo ao Campo do Marituba.

O CBM/AL foi acionado por volta das 15h40 e enviou para o local duas viaturas com um total de cinco militares. O comandante do socorro chegou ao local e retirou as duas vítimas do carro com segurança. Eles também atuaram na retirada de uma criança e sua mãe de dentro de uma clínica. A reportagem não conseguiu o contato do motorista para apurar se ele tinha seguro.

Em casos de emergências semelhantes, a população pode acionar a Defesa Civil de Maceió pelos números 199 ou 156. Ao ligar, é importante descrever a situação para que uma equipe possa ser enviada ao local para prestar o devido atendimento. A Defesa Civil também emite alerta pelo Centro Integrado de Monitoramento e Alerta (Cimadec) com avisos para a população cadastrada sempre que há previsão de chuvas intensas. Para receber essas mensagens, os cidadãos podem enviar gratuitamente o CEP de sua residência para o número 40199 por SMS ou utilizar o aplicativo WhatsApp, interagindo com o assistente virtual para compartilhar a localização atual.

PREVISÃO DO TEMPO

O meteorologista e superintendente de Prevenção em Desastres Naturais da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Vinícius Nunes Pinho, disse que a Sala de Alerta da secretaria já iniciou os trabalhos para o período chuvoso de 2024.

“A Semarh é responsável pelo monitoramento das bacias hidrográficas aqui do estado, em relação ao nível dos rios, é feita a emissão de avisos e alertas hidrológicos em todo o estado. A gente já está fazendo esse acompanhamento. Nós temos uma equipe que já está trabalhando em regime de plantão agora. Até o momento, essas chuvas que têm atingido o estado não têm impactado numa elevação significativa do nível dos nossos rios. Mas a gente tem que estar atento a qualquer situação. Caso chova de forma intensa, principalmente na região das nascentes dos nossos rios, que ficam lá em Pernambuco, a gente fica atento para emitir os avisos e alertas para a Defesa Civil e para o Corpo de Bombeiros”, explicou Nunes.

Inverno em 2024

  • O inverno de 2024 tem início apenas em 21 de junho e segue até 22 de setembro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mas com as altas temperaturas dos últimos dias, os brasileiros já se preocupam com sua chegada.
  • Segundo Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo, o inverno deste ano será marcado por frentes frias mais acentuadas por influência do resfriamento do Oceano Pacífico equatorial ocasionado pelo fenômeno climático La Niña. “Ainda teremos um final de verão e outono mais quentes que o normal, pois a atmosfera segue aquecida pelo El Niño, mas a tendência é que ele perca força para entrarmos em uma fase de neutralidade climática”, explicou a especialista.
  • Segundo o último relatório da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), há 65% de chance de o fenômeno retornar até agosto deste ano. Se as previsões se confirmarem, o inverno de 2024 e parte de primavera podem ser marcados por dias mais frios e secos, principalmente no Sul do país, e chuva no Norte e Nordeste.

Arquitetura e Urbanismo a favor da prevenção contra enchentes

A arquiteta e urbanista Catarina Agudo Menezes, formada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), destacou que antes de pensar nas soluções sob a ótica do Urbanismo, precisam ser discutidas as causas das enchentes.

“Temos em Maceió um índice muito alto de impermeabilização. São poucas áreas na cidade significativamente grandes e permeáveis. Até a orla é um grande calçadão pavimentado. Temos poucos trechos de solo permeável, por exemplo. Isso é intensificado com um grande crescimento urbano que a gente vê tanto na parte alta, quanto no litoral norte, quanto ali nos bairros da Ponta Verde e Pajuçara”.

Segundo ela, a construção de edificações, dos vários condomínios que estão sendo feitos ao longo dos anos, ajuda nesse processo de impermeabilização. Outro aspecto que colabora com as enchentes e alagamentos apontado por Catarina Agudo, que possui também mestrado em Arquitetura também pela Ufal e doutorado em Arquitetura pela FAUUSP, são as ocupações irregulares nas áreas de risco, nas regiões de encosta, nos vales, nos leitos de rios, nas margens de rios, córregos e de lagoas. E essa ocupação, muitas vezes, vem acompanhada com o desmatamento da vegetação.

“Desta forma, tanto na encosta como nas margens dos rios, a retirada dessa vegetação promove também a edificação dessas enchentes, porque a água, quando tem vegetação, ela corre numa velocidade mais lenta para descer a encosta, por exemplo, então a vegetação ajuda na absorção dessa água pelo solo, e quando não tem, a água cai mais rápido, contribuindo para a ocorrência das enchentes. Além disso, a gente tem também uma sobrecarga na rede de drenagem, nos canais, nos córregos principalmente, nos canais de coletores de água pluvial, porque em uma área muito grande da cidade que não possui saneamento básico. Então as casas fazem, os moradores, e os canais que deveriam ser apenas de coleta de água da chuva começam a receber o esgoto das residências, então sugere uma sobrecarga nesse sistema. E aí dentro do sistema de drenagem também, a gente tem uma defasagem desse sistema em relação ao próprio desenvolvimento urbano, então a cidade cresce, surgem ainda outros condomínios e prédios e tudo mais. No entanto, a capacidade do sistema de drenagem, de forma bem simples, falando apenas no bueiro e na galeria, basicamente, continua a mesma”, comparou.

Doutora em Arquitetura, Catarina Agudo (Foto: Edilson Omena)

Então, só para exemplificar, abriu parênteses a doutora em Arquitetura, no caso do bairro da Ponta Verde que tem sistema de drenagem feito e implementado há uns 20 anos. E nesse tempo o local recebeu uma quadra, ganhou 10 edifícios de 12 andares cada um. Então isso vai gerar uma impermeabilização do solo maior, mas o sistema de drenagem continua o mesmo.

“Então a água da chuva que era absorvida pelo solo de um lote, de um terreno que estava vazio, ela agora vai para a rua. E aí o sistema de drenagem, enfim, não comporta toda essa água que vai se acumulando. E tem também a questão do acúmulo de lixo”, considerou.

Catarina Agudo desenvolve trabalhos na área de História da Urbanização, Paisagismo e Patrimônio Cultural. Atualmente, é docente e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unima. Na avaliação da doutora em Arquitetura, a impermeabilização do solo é um fator importante e significativo para a ocorrência das enchentes. “Acho que a gente não pode colocar a culpa, entre aspas, simplesmente no aumento do nível de chuva ou da intensidade da chuva num determinado período”, avaliou.

Outra solução dentro do planejamento urbano é controlar o adensamento urbano, o crescimento da cidade e a impermeabilização do solo. Monitorar, aconselhou ela, se novas construções estão respeitando os índices e as taxas de permeabilidade que o próprio Código de Urbanismo determina.

Além de, também, serem criadas leis para que os edifícios, por exemplo, tenham áreas permeáveis nos seus tetos. Então existem cidades que determinam que um edifício a partir de um certo número de andares, quatro andares, por exemplo, tenham um teto jardim. Então a área que ele impermeabiliza embaixo, no solo, ele recria no telhado. Isso faz com que ele aumente ou pelo menos mantenha a permeabilidade do solo naquela obra, naquela edificação.

“Também é importante diminuir a geração de lixo, de lixo sólido principalmente, então através de campanhas, acho que conscientizar a população quanto ao descarte do lixo na rua, espalhar mais lixeiras, realizar a coleta de lixo de forma efetiva, principalmente nessa época de chuva mais intensa, então para que o lixo não permaneça muito tempo na rua, buscar a parceria com a própria população quanto a esse acúmulo de lixo. É claro que a responsabilidade não é só da população, acho que não pode ser colocada para a população, não é só a quantidade de lixo da rua que entra no bueiro e que enche a rua”, sugeriu.

É claro, afirmou Catarina Agudo, que às vezes a média de chuvas é muito maior do que em anos anteriores. “Mas é um ciclo e a cidade precisa estar preparada, ter uma infraestrutura que consiga comportar toda essa água que cai agora, que vai cair daqui a cinco anos, que daqui a 10 anos vai ser um volume maior se a gente prestar atenção nessas movimentações ao longo dos anos”.

A doutora em Arquitetura apontou soluções a curto, médio e longo prazo. “O mais importante é investir mesmo num sistema de infraestrutura, de drenagem, que comporte várias ações, na verdade. Que as edificações recebam saneamento, enfim, que o esgoto vá realmente para o lugar onde deve, que tenha o destino devido. E aí o monitoramento para que essas redes coletoras de água da chuva não recebam esgoto de nenhuma forma. Além disso, atualizar o sistema de drenagem da cidade, os bueiros, as galerias, é uma atividade, é uma ação de manutenção constante. Então, verificar se os bueiros estão funcionando corretamente, se não tem bueiro quebrado, se não tem bueiro entupido, se a galeria está ok, a galeria de drenagem, aumentar essa rede de drenagem”, listou.

Segundo ela, existem poucas obras pela cidade em relação à drenagem e ao saneamento, porque causam transtornos e esbarram em questões políticas também. Na sua ótica, a falta de obras de saneamento nem é por limitação orçamentária, mas por questões políticas e até culturais, porque as obras de saneamento e de drenagem precisam quebrar o asfalto, fechar a rua, então geram um transtorno muito grande, muitas vezes nem o poder público quer lidar com isso e até a população também acaba reclamando.

Obra de saneamento da Prefeitura de Maceió no conjunto Graciliano Ramos, na parte alta (Foto: Mariane Rodrigues / Ascom Seminfra)

“Por desconhecer aquele benefício, a população acaba reclamando de algo que na verdade vai ser uma melhoria para a cidade. Acho que tem que haver também um monitoramento em relação às ocupações irregulares para que novas áreas não surjam, para que as encostas sejam preservadas, podem acontecer ações de reflorestamento dessas encostas, de preservação e reflorestamento da vegetação das margens dos rios. Então a gente tem o Riacho Salgadinho, por exemplo, que corta ali a cidade, que é um importante canal também de drenagem. E aí a recuperação dessa vegetação da margem é importante para que o solo consiga absorver melhor a água”, explicou a arquiteta detalhadamente.

A criação de mais parques e praças de áreas permeáveis é outra solução apontada pela coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unima. Para ilustrar, ela citou a alternativa chamada jardim de chuva que pode ser implantada nas calçadas, por exemplo, tornando um trecho da calçada uma área permeável.

Catarina Agudo explicou que um pequeno jardim já auxilia na absorção da água pelo solo. Desta forma, em vez de pavimentar toda a extensão das calçadas, podemos criar pequenas áreas permeáveis com vegetação, com arborização, inclusive, que ajudam nessa drenagem. Tem também as lagoas de drenagem, existe no planejamento urbano um recorte, uma área de atuação, que é denominado de infraestrutura verde. “Maceió precisa de soluções ecológicas para implementar, para aprimorar a infraestrutura da cidade”, apontou.

Existem também tipos de pavimentação em que o material é permeável, ele é drenante. Em vez de simplesmente asfaltar, existe um concreto permeável. Isto sem esquecer de uma outra ação importante como a limpeza dos rios e canais. Ao desassorear, a gente aumenta a profundidade dos rios, aumentando também sua capacidade de receber uma quantidade maior de água.

“Os canais precisam de limpeza constante. Os córregos captam água da chuva. Essa é uma ação rápida, algo a curto prazo para ser feito antes de começar o próximo inverno. Além de campanhas com a população para diminuir a quantidade de lixo na rua, são ações que podem ser feitas de forma mais rápida”, assegurou.

Para Catarina Agudo, a Prefeitura de Maceió precisa priorizar as ações de planejamento urbano, pensar o planejamento de uma forma mais ampla, mais abrangente, contemplando as questões de infraestrutura, de zoneamento, de adensamento, de crescimento urbano, para que a ocorrência das enchentes seja diminuída, minimizada ou realmente extinta.

“É um tema muito complexo que demanda um trabalho muito disciplinar da prefeitura, com uma parceria com a população também, claro. Vale consultar e contratar técnicos especializados. Acho que nem sempre tem pessoas especializadas nessa área, especificamente no corpo de funcionários da prefeitura, das secretarias. Então acho que tem que ser um trabalho muito sério e prolongado, pensando realmente no longo prazo. A gente tem essa questão também da descontinuidade muitas vezes de um projeto, quando muda a gestão”, destacou Catarina.

Prefeitura afirma que trabalhos de recuperação e drenagem estão sendo realizados

A Prefeitura de Maceió informou através da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) que está diariamente pelos bairros da capital realizando serviços de recuperação, reconstrução, implantação e desobstrução de galerias de águas pluviais. De acordo com a Seminfra, as ações são feitas de forma preventiva e também com atuação nos pontos de alagamentos nos dias de chuva.

“Somente nos três primeiros meses de 2024, 800 toneladas de entulhos foram retiradas das tubulações de drenagem. No ano de 2023, mais de 3 mil toneladas de entulhos foram removidas para melhorar o fluxo da chuva pelas tubulações, que ficam obstruídas por causa de resíduos descartados irregularmente. A Seminfra reforça ainda que tem pacote de obras sendo executado em bairros como Santa Lúcia, São Jorge, Riacho Doce, Cidade Universitária, que inclui implantação de drenagem e pavimentação. E que trabalha na elaboração de projetos para levar mais desses serviços a mais vias da capital”, ressalta.

Um dos serviços que a Prefeitura de Maceió tem realizado é o reforço na contenção de encostas em áreas de risco (Foto: Itawi Albuquerque / Secom Maceió)

Já a Defesa Civil de Maceió divulgou que a preparação para o período chuvoso segue as ações previstas no Previne (Plano de ações municipais para o enfrentamento do período chuvoso), que conta com colocações de lona, encaminhamento de pontos que necessitam de obras de engenharia, entre outras ações desempenhadas com objetivo de mitigar riscos e salvaguardar vidas. Desde o início do período chuvoso atual (14/4) já foram atendidas 65 ocorrências, sendo 12 de alagamentos, 18 de deslizamentos, duas quedas de árvores e uma de inundação e um tombamento de árvore centenária.

Bairro mais caro do Nordeste, Pajuçara padece com os efeitos das chuvas

Nem mesmo a Pajuçara, eleito o bairro mais caro do Nordeste para compra de imóveis residenciais, fica imune aos constantes e cada vez mais avassaladores alagamentos e enchentes. Uma pesquisa de mercado divulgada em abril apontou que Maceió se destaca entre as capitais do Nordeste com os bairros mais caros em metros quadrados. A classificação reflete uma mudança de panorama, uma vez que Meireles, em Fortaleza, no Ceará, ocupava o primeiro lugar nas últimas pesquisas.

O estudo, realizado pela empresa FipeZap Venda Residencial, concluiu que cinco capitais no Nordeste, entre elas, Maceió, Fortaleza, João Pessoa, Recife e Salvador, tiveram uma valorização no preço do metro quadrado (m²) no acumulado dos últimos 12 meses.

Orla da Pajuçara, o bairro com o metro quadrado mais caro do Nordeste (Foto: Edilson Omena)

Na lista dos 10 bairros mais caros, Maceió é não só a capital com o bairro mais caro, mas também a que tem a maior quantidade de bairros na lista. Ao todo, são quatro da capital alagoana que figuram entre os mais caros da região. São eles: Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Jacarecica. Confira a lista dos 10 bairros mais caros do Nordeste:

Pajuçara (Maceió): R$ 10.294 por m²;

Meireles (Fortaleza): R$ 9.982;

Cabo Branco (João Pessoa): R$ 9.702;

Mucuripe (Fortaleza): R$ 9.534;

Ponta Verde (Maceió): R$ 9.345;

Jatiúca (Maceió): R$ 9.292;

Jacarecica (Maceió): R$ 9.206;

Eng. Luciano Cavalcante (Fortaleza): R$ 9.049

Barra (Salvador): R$ 8.806/m²;

Santo Amaro (Recife): R$ 8.439/m².

Apesar das cifras do metro quadrado e do fato dos moradores da orla amargarem um custo de vida de turista, as ruas ficam intransitáveis depois de 10 minutos de chuva.

Além da Pajuçara, os outros três bairros na lista dos mais caros da região também sofrem drasticamente com os efeitos da chuva. Até o começo de março de 2024, os preços por metro quadrado dos bairros mencionados variavam entre R$ 9.938/m² e R$ 9.083/m². Mas, no final de março, a valorização da Pajuçara pulou para a casa dos R$ 10 mil.

Região nobre da Ponta Verde convive na época chuvosa com muitos alagamentos (Foto: Edilson Omena)

Em um intervalo de 12 meses, os preços no bairro da Pajuçara saltaram 17%, permitindo ultrapassar o bairro Meireles, nas imediações da Avenida Beira-Mar, em Fortaleza, no Ceará. Este, aliás, está muito perto de ser o segundo a ultrapassar a barreira dos R$ 10 mil, com o metro quadrado fixado em R$ 9.982,00.

Os alagamentos no Brasil

A vulnerabilidade não é uma escolha e sim uma necessidade, na maioria das vezes e principalmente, nas periferias do país. Estima-se que uma em cada três tragédias registradas no Brasil esteja relacionada com questões climáticas, o que envolve vendavais, chuvas e enchentes, sendo bastante comum que esses fenômenos aconteçam conjuntamente.

Não se trata de um problema isolado. Como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 10 milhões de pessoas residem em áreas sujeitas a enchentes e deslizamentos. Com as mudanças climáticas, o esperado é que esse tipo de problema se agrave ao longo do tempo.

Esse tipo de evento não causa apenas prejuízos financeiros, mas também, traumas e mortes. A mais marcante na história recente foi registrada em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011, que registrou um número bastante expressivo de mortes. Mesmo assim, ainda há cerca de 172 mil pessoas que vivem em áreas de risco nessa mesma região.

(Foto: Edilson Omena)

O problema nos locais que sofrem com a seca também é uma realidade, até mesmo em razão de o planejamento urbano não contemplar esse tipo de problema com a devida atenção. Quando a chuva chega nessas regiões áridas, não é incomum ler notícias de alagamentos, quase sempre acompanhadas de fortes vendavais. Daí a importância de proteger a sua casa contra as chuvas.

Causa de tantos alagamentos no país

O Brasil é um país privilegiado pela insignificante incidência de tremores de terra e furacões, mas as chuvas, aliadas a pouca prevenção, constituem um dos seus maiores problemas. As causas são, geralmente, atribuídas à própria força da natureza, mas também podem ser geradas ou agravadas pela ação do homem.

Um exemplo de causa natural de alagamentos são os rios que cortam as cidades e que, nos períodos de cheias, acabam com suas águas invadindo espaços residenciais. Por isso existe a proibição de se construir residências próximo às margens, o que não significa que não aconteça, até mesmo em razão de muitas cidades terem sido erguidas sobre essas áreas.